martes, 23 de febrero de 2010

Dibujo:A Queixada:Dá-se um passo à frente do adversário e, (calculando sempre a distancia) suspendendo-se a perna com ligeireza, (direita ou esquerda) faz-se com que o pé (direito ou esquerdo) bata no queixo do adversário.1928-Méthode de Burlamaqui , (Zuma)

PARA ALÉM DAS METODOLOGIAS PRESCRITIVAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: A POSSIBILIDADE DA CAPOEIRA COMO COMPLEXO TEMÁTICO NO CURRÍCULO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL
JOSÉ LUIZ CIRQUEIRA FALCÃO*
..................Em 1907, aparece o opúsculo intitulado Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira, cujo autor teria julgado prudente não revelar seu nome, pelos preconceitos existentes em relação à capoeiragem, mencionando apenas a sigla O.D.C., que significava Ofereço, Dedico e Consagro à distinta mocidade. Esse opúsculo defendia a sistematização da capoeira como um método nacional de ginástica. O opúsculo enaltecia os capoeiras de outrora pela riqueza de seus variados movimentos, pela prudência e por serem “amigos da ordem”. Alertava, ainda, que a“degeneração lenta e succesiva” começava a destruir “as bellezas desta gymnastica pátria pela ausência dos últimos notáveis mestres (sic)”(O.D.C., 1907, p. 2). Eis, aqui, mais um exemplo de deturpação e distorção do legado cultural da capoeira, com vistas a tratá-la pedagogicamente, a partir de metodologias prescritivas. Em 1928, o escritor Coelho Neto (1928) publicou o artigo “Nosso Jogo”, no qual apresenta uma proposta de inclusão da capoeira nas escolas civis e militares, chamando a atenção para a excelência desta como ginástica e estratégia de defesa individual. No mesmo ano, Aníbal Burlamaqui, um oficial da Marinha do Rio de Janeiro, publica o livro Ginástica nacional (capoeiragem): methodisada e regrada, no qual apresenta regras para o jogo esportivo da capoeira. Esta obra é apresentada com certo ufanismo à sociedade da época, como um “grito de brasilidade”, como possibilidade de libertação da influência dos “sports estrangeiros” e para destruir o “archaico e tolo preconceito de que a ‘GYMNASTICA BRASILEIRA’ – a capoeiragem – desdoura a quem a pratica” (sic!) (BURLAMAQUI, 1928, p. 9). Segundo o prefaciador da obra, Mario Santos, trata-se de um livro “modesto, prático e útil”, que apresenta regras esportivas para tornar um “gymnasta brasileiro” capaz de vencer os de outras lutas estrangeiras. Ao defender a capoeira, Burlamaqui o fazia sob o argumento de que ela era superior ao boxe, à luta romana e à luta japonesa, pois reunia elementos de todas elas e ainda estava associada à “inteligência e à vivacidade peculiares ao tropicalismo dos nossos sentimentos” (BURLAMAQUI, 1928, p. 5).




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