miércoles, 24 de febrero de 2010

Carlos Eugénio Líbano Soares

Carlos Eugénio Líbano Soares
O cronista Tinop, como era conhecido o jornalista João Pinto Ribeiro de Carvalho, na sua colectânea sobre a história do fado, estabeleceu o paralelo entre os capoeiras e os fadistas, como também notaria Bretas mais tarde:
Como os mâitres enfait d'armes do século xviii falavam de papo em esgrimiduras de espadas, também ele [o fadista] fala de cadeira no tocante à esgrima da navalha, que maneja com virtuosidade, pinchando baileiros, pulando com ginásticas felinas de tigre, fazendo «escovinhas», riscando a preceito.
Os fadistas do Rio de Janeiro são os capoeiras. Tem havido alguns notabilíssimos pelas proezas12.O duelo entre Manduca da Praia e Sant`Anna e Vasconcelos selou o encontro entre o fadista da Mouraria e o capoeira Nagôa13. Agora eles caminhariam juntos, tendo como palco as ruas movimentadas da capital do império brasileiro. A gíria do fadista, para completar a união (anexo), guarda extraordinárias semelhanças com o jargão das camadas populares da sociedade fluminense, como poderemos ver no vocabulário dos capoeiras.

«Sardinha», «rasteira», «ginga», são alguns dos extraordinários paralelos entre a fala do fadista e a gíria da capoeiragem carioca. Essa proximidade reforça a ideia de um fundo cultural comum, unindo navalhistas de ambos os lados do Atlântico.12 Tinop (pseudónimo de João Pinto Ribeiro de Carvalho), História do Fado, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1982, pp. 49-50.
13 Tinop, op. cit. Sobre o célebre encontro do capoeira Manduca da Praia e o fadista Santana e Vasconcelos disse Tinop: «O Manduca da Praia — um homem pardo, temível —, que tinha loja de peixe no mercado, pendenciou Santana e Vasconcelos num botequim carioca, mas o nosso compatriota reguingou-lhe com valentia. Santana e Manduca da Praia saíram uma vez de braço dado de um teatro a cuja porta eram esperados por uma alcateia de capoeiras com o fim de os agredirem. Mas os maraus não se atreveram a tocar-lhes e limitaram-se a abrir alas à sua 0 passagem» (p. 54).

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf

No hay comentarios: