miércoles, 24 de febrero de 2010

Os Bestializados

gravura: http://web.tiscalinet.it/canneitaliana/italo.htm
BESTIALIZADOS OU BILONTRAS?
José Murilo de Carvalho
(do Livro “Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001)

Mas as formas de entrosamento da ordem com a de­sordem iam além do simples uso de capoeiras em elei­ções. Capoeiras e capangas eram tradicionalmente usa dos também por políticos e poderosos em geral como instrumentos de justiça privada. Muitos capoeiras inte­graram a Guarda Negra que dispersava comícios repu­blicanos. A própria polícia fazia uso deles como agentes provocadores ou informantes. O conúbio ia além da po­lítica. Diferentemente do que se pensa, por exemplo, en­tre os capoeiras havia muitos brancos e até mesmo es­trangeiros. Em abril de 1890, ainda em plena campanha de Sampaio Ferraz, foram presas 28 pessoas sob a acusação de capoeiragem. Destas, apenas cinco eram pretas. Havia dez brancos, dos quais sete estrangeiros, inclusive um chileno e um francês. Era comum apa­recerem portugueses e italianos entre os presos por capoeiragem. E não só brancos pobres se envolviam. A fina flor da elite da época também o fazia. Neste mesmo mês de abril de 1890 foi preso como capoeira José Elísio dos Reis, filho do conde de Matosinhos, uma das mais importantes personalidades da colônia portuguesa, e irmão do visconde de Matosinhos, proprietário do jor­nal O Paiz. Como é sabido, a prisão quase gerou uma crise ministerial, pois o redator do jornal era Quintino Bocaiú­va, ministro e um dos principais propagandistas da Re­pública. Outro caso famoso foi o de Alfredo Moreira, filho do barão de Penedo, embaixador quase vitalício do Brasil em Londres, onde privava do convívio dos Roths­child. Segundo o embaixador francês no Rio, Alfredo era "um dos chefes ocultos dos capoeiras e cabeça co­nhecido de todos os tumultos". O representante inglês in­formava em 1886 que José Elísio e Alfredo Moreira eram vistos diariamente na rua do Ouvidor, a Carnaby Street doo Rio, em conversas com a jeunesse dorée da cidade. (21)
http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html

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