Felippe Xavier da Rocha. – Fluminense, natural da cidade do Rio de Janeiro; filho de José Francisco da Rocha. De estatura regular, cheio de corpo, tez clara, cutis pilosa, rosto grande e comprido. Na sua mocidade trazia a barba toda rapada; usou-a depois toda crescida, se bem que correctamente aparada nas extremidades. Era dotado de grande talento e caracter folgazão, sem embrago de algumas excentricidades. Serviu em cargos de magistratura, a principio em Campinas e por fim em Piracicaba, onde tambem por longos annos advogou e exerceu os cargos de delegado de policia, vereador e presidente da camara municipal. Foi eleito deputado supplente á decima legislatura (1857-60) da Assembleia Geral, e nesse caracter foi chamado a tomar assento, por occasião da vaga aberta na representação do oitavo districto de S. Paulo, com a morte de Gabriel. Militou sempre nas fileiras do partido conservador. A auctoridade do dr. Felippe da Rocha como jurrisconsulto e provecto advogado era reconhecida em vasta zona desta provincia, de onde lhe vinham em profusão consultas de juizes e collegas sobre pontos difficeis do Direito. No exercicio da sua nobilissima profissão, adquiriu fortuna, da qual, porém, pessoalmente pouco aproveitou, por ser generoso e de mãos abertas. Não deixou familia, nem lhe foi de attractivos o lar domestico. Por morte de sua primeira mulher, casou-se em segundas núpcias, já com bastante edade. Com o genio brincalhão que sempre conservou, aprazia-se nas rodas dos rapazes, e isto lhe trouxe, de uma vez, o aborrecimento de hospedar-se na cadeia publica. Deu-se o desagradavel incidente por elle ter fortuitamente ferido a um dos companheiros de folguedo com um canivete que em má hora empunhára em acto de desafio á rapaziada que o cercava e á qual elle se comprazia em dar uma lição de capoeiragem. Foi ao jury, acompanhado por todos os collegas do foro, que assim quizeram dar-lhe uma prova de estima e prestar homenagem á justiça da causa. Foram seus advogados os drs. Estevam de Rezende (hoje Barão de Rezende), Prudente de Moraes e Moraes de Barros. Existe ainda em Piracicaba o prédio, de agradável apparencia, que o dr. Felippe da Rocha fez edificar para sua residencia. Demora no largo do Theatro, tem janellas ogivaes e toda a construcção é de tijolos. Esta ultima particularidade, que hoje constitue a regra geral, produziu sensação naquelle tempo. Ajuntava-se gente para observar como se levantavam paredes sem esteios ou pilares, nem mesmo nos ângulos. E, sobre se taes paredes cahiriam, ou não, faziam-se apostas. O dr. Felippe respondia a principio ás interpellações que sobre este e outros pontos lhe eram oppostas. Tantas, porém, foram as criticas, que elle por fim perdeu a paciência e mandou affixar sobre os andaimes vistoso letreiro com estes dizeres : <> Boa lição lição para os ociosos bisbilhoteiros, dados a intrometterem-se em coisas que não são da sua conta ! O dr. Felippe José da Rocha falleceu em Piracicaba em avançada edade, aos 3 de abril de 1887
(José Jacinto Ribeiro, na Chronologia Paulista, vol. I, pág. 385, diz – 1857. Deve ser erro typographico).
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