A sombra do sineiro: drama trágico-burlesco em verso, em três actos .José Ignácio de Araújo
Livraria e papelaria e portugueza de Ferreira & Franco [distributor], 1860 - 78 páginas
(pag 26) À SOMBRA. Eu, ter piedade!!.Nenhuma — só vingança e crueldade.Respira a triste sombra do sineiro! (pausa; aproxima-se vagarosamente de Giboia, dá-lhe um piparote no nariz, elle cae} .Agora vou tocar no meu pandeiro, E trovas ensaiar de estylo serio. 'P'ra os mortos entreter no cimiterio. (mostra um pandeiro que traz occulto, e caminha para o fundo) .Cae o panno.
ACTO II.(A matta dos Carvalhos. Ao longe descobrem-se serranias. Ao levantar o panno a scena está vasia.)
SCENA I
D. TRAMPOLIM, E D. MACARRONETE.(Trampolim de estoque, Macarronete com faca, e borracha á cinta. Entram estafados.)
D. TRAMPOLIM. Sete leguas a pé!.. . Falta-me o alento!.. . (aparte) Se a mão me põe na bocca eu arrebento.
D. MACARRONETE. Corremos, na verdade, á desfilada.. .
D. TRAMPOLIM. Deixae-me descansar d'esta massada... (senta-se em uma pedra que encontra)
D. MACARRONETE (admirado) Um guerreiro cansar.'.. . muito me pasma !
D. TRAMPOLIM. Meu amigo, padeço ataques d'asma... Mas este esfalfamento em breve passa.
D. MACARRONETE (tirando a borracha da cinta e offerecendo-lh'a) .Para se reanimar beba cachaça.
D. TRAMPOLIM.(bebe e levanta-se) .Isto fortaleceu-me de maneira
Que prompto já estou pra brincadeira, (mudando de tom).Diga-me, onde comprou esta aguardente ? .Quero mandar lá o moço brevemente.
D. MACARRONETE. Não precisaes sabel-o, que um defunto .Vós em breve sereis; e eu vos pergunto
Se já se viu alguem matar o bicho .Depois de ser cadaver, pó, e lixo? (vaea beber, acha a borracha despejada; aparte) .Que tal 'stá o amigo !.. . bebeu tudo ! .Tem graça p'ra pregar peças de entrudo, (alto) .Escorropicha bem, D. Trampolim!.. .
D. TRAMPOLIM. Menos mal, menos mal... assim assim... (com intrepidez) .Mas vamos ao combate.
D. MACARRONBTE. Eu chá estou prompto, .E com a victoria certa agora conto.
D. TRAMPOLIM (canta) .Não temo ficar vencido .N'esta lucta a pelejar, .Em breve estás estendido .De barriga para o ar.
D. MACARRONETE (gingando} .Oh! muito enganado estás, Pois com esta facasinha (mostrando grande faca) .Vou abrir-te a barriguinha.Como a um porco se faz.
D. TRAMPOLIM (em atitude de avançar) .Sabe, D. Macarronete, Que vaes perder a demanda. .Pois vou com este florete .Passar-te de banda a banda.
D. MACARHONETE (querendo investir) .Sem demora, meu formiga .Dize adeus á cara vida, .Pois vaes ver como convida .Esta faca — essa barriga.
D. TRAMPOLIM. Eu não te temo,
D. MACARRONETE. Tu não me assustas,
D. TRAMPOLIM. Tu vaçs morrer.
D. MACARRONETE. Pagas as custas. Ensemble (p eparando-se fará combater) .Eia ! á lucta ! sem demora,Põe-te em guarda sem tremer,Triumphar eu vou agora,Tu a vida vaes perder, (combatem um pouco)
D. TRAMPOLIM. Este golpe é de morte... bem se vê... (dando uma estocada no adversário) .Quem ganhou a questão?
D. MACARRONBTE.
Ganhou você. (cae; faz varias contorsôes durante as quaes Trampolim o olha horrorisado)
1 comentario:
O padre Joaquim Sem-cuidados era um pobre diabo de leigo que n'aquelle tempo havia em Coimbra, que não fazia mal a ninguem, mas com quem toda a gente embicava. Trajava batina e gorro, como se fôra estudante, e chamavam-lhe o Sem-cuidados — pela maneira pachorrenta e pausada com que caminhava gingando.
(PAG 267) Honra ou Loucura: romance Arnaldo Gama Casa de Cruz Coutinho, 1858 - 296 páginas
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