Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Volumen 30 ,Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Instituto historico, geografico e ethnographico do Brasil, 1867
O RECLUTAMENTO
(pág 27- 28) O recrutamento no Brasil é o mais devastador que é possível.
Quantas vezes eu mesmo tenho observado soltar-se o atrevido capadorio (*) por empenho da potente senhoria? Quantas vezes debaixo do santo manto do poder tem-se visto prender-se o intrigado joven, muitas vezes o unico filho de uma familia desgraçada?! Quantas vezes sob a pobre e mesquinha capa hei observado chegar-se o ricaço camponez, e pelo escondido metal que comsigo traz livrar o filho, o parente, o amigo, talvez todos no caso desoffrer o recrutamento? Bem applicado o dicho—quem tem capa, escapa!! Ora, se nós observamos que pelo interesse pecuniario deixa-se de recrutar o vadio, o vagamundo, o filho desnecessario (**), e se empenha o sceptro do poder contra o desvalido, o orphão, o mercenario, e outros, cuja facilidade de captura induz ao recrutador a olhal-os, como inuteis cidadãos; como poderá o Brasil entreter um necessario exercito, não causando grande damno á sua população? Estas observações nos fazem acreditar ser evidente que a reforma das tropas de linha, sem comprometter a segurança nacional, faria desapparecer dois grandes obstaculos á população, — o celibato dos soldados, e o celibato que seu entretenimento faz nascer nas outras classes de individuos do Estado. Destruindo-se estas duas origens de males, destruir-se-ha um outro vicio politico, que não damnifica menos ao progresso da população, e cuja actividade é sempre relativa ao numero dos celibatarios e á miseria nacional. Este vicio ó a incontinencia e a immoralidade publica.
(*) Capadocio, termo provinciano, significa — sujeito valentão, dado ú bebida, ao jogo e ao deboche. — No Rio de Janeiro, vulgo — capoeira.
NOTAS: Vocabulario Brasileiro para servir de complemento aos diccionarios da lingua portugueza, Rubim Costa da Braz, 1853
(PAG 18) CAPUEIRA, mato curto que vêm depois da derrubada do mato virgem; é corrupção de co, cuera, roça antiga — desordeiro, brigão, que joga as cabeçadas; jogar capueira— casta de perdiz.
2 comentarios:
Gerardi Mercatoris Atlas sive Cosmographicae meditationes de fabrica mundi et fabricati figura. Denuò auctus, Gerardus Mercator, sumptibus & typis aeneis Henrici Hondij, 1758 - 85 páginas.
Caponniére, f. f. terme de guerre ; forte de logement pour tirer sans être vu.& creusé en terre, Capoeira, termo de fortificaçao. Les soldats tiroient par les caponniéres , Os soldados atiravaö das capoeiras.
Cinco minutos talvez durasse já o estéril manejo de saltos e negaças, de ataques e de golpes perdidos no ar; mas o Hercules negro cansou de esperar, e afrontando o machado atirou frente a frente ao Pae-Rayol com ímpeto tão pouco esperado, que o instrumento da morte cahio sobre elle, quando seu corpo já estava pregado ao corpo de Pae-Rayol.
A decisão da luta pareceo então depender da posse do machado: os dous negros disputarão com desesperado esforço a arma formidável; mas em breve Alberto, dando forte joelhada no estomago do Pae-Rayol, e ao mesmo tempo com igual força, puxando o machado, arrancou-o das mãos do inimigo, que recuára á cambalear.
Em vez de ferir logo de morte á Pae-Rayol, o soberbo Hercules atirou o machado no despenhadeiro, e perguntou:
— Cão damnado! trazes faca aí ,
O Pae-Rayol que redobrara de fúria, tendo já recobrado o fôlego, respondeu com voz de surdo trovejar:
— Não; mas Pae-Rayol mata sem faca. Alberto puxou a faca da cinta e a fez voar
pelos ares.
— Braço à braço agora ! e no fim a morte de um de nós dous no fundo do precipício!
Os dous negros se arrojarão um sobro o outro,e a luta se tornou medonha: agarrados arabes,ferindo-se com as unhas e com os dentes, e em violento combate, em que as mãos como os pés,as pernas como os braços de ambos se enlaça vão, se estiravão, se retorcião no empenho que cada qual tinha de submetter o outro, Alberto e Pae-Rayol erão como dous cães de fila, ou como duas pantheras que se tivessem aferrado.
FUENTE: (PAG 326-327) As victimas-algozes, quadros da escravidão:
romances, Volumen 1 ,Joaquim Manuel de Macedo
,Typ. americana, 1869
Publicar un comentario